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sábado, 14 de abril de 2012

TEXTO 116 - PARTE 20: TESE DE DOUTORADO EM XADREZ - RACIOCÍNIO LÓGICO E O JOGO DE XADREZ: EM BUSCA DE RELAÇÕES.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).

REFERÊNCIA:
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000767372&opt=4
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TESE DE DOUTORADO EM XADREZ - RACIOCÍNIO LÓGICO E O JOGO DE XADREZ: EM BUSCA DE RELAÇÕES.
AUTOR: WILSON SILVA.
ORIENTADOR: PROFº DRA. ROSELY PALERMO BRENELLI.
DATA: 23.02.2010.

3.5.1 Taxonomia Básica dos Planos no Jogo de Xadrez
A evolução da planificação no xadrez pode ser comparada com o que é
chamado de co-evolução em biologia onde ocorre influência evolucionária mutua entre
duas espécies, como é o caso, por exemplo, da relação entre predador e presa.
Uma águia que se alimente principalmente de um determinado tipo de preza,
como por exemplo, um coelho, contribui para a melhoria desta espécie de coelho, pois
elimina sistematicamente os indivíduos mais fracos e os restantes, que se mostram
mais aptos a sobreviverem neste ambiente, passarão seus genes adiante. A espécie de
coelhos, para não ser extinta, terá que desenvolver, dentro de um determinado tempo
evolucionário, adaptações anti-predador, como por exemplo, uma camuflagem mais
adequada ao ambiente, ou maior agilidade na fuga. Estas adaptações na espécie de
coelhos, por sua vez, poderão levar também a novas adaptações nas águias no sentido
de compensar as adaptações dos coelhos. É uma permanente corrida armamentista
entre o predador e a presa.
A evolução da planificação no ataque e na defesa no xadrez ocorre de forma
similar a co-evolução em biologia, onde um avanço no ataque leva a defesa a se tornar
mais sofisticada, o que, por sua vez, leva o ataque a refinar seus procedimentos
constantemente.
Uma abordagem psicogenética mostra que, tanto na “ontogênese” enxadrística
(evolução enxadrística individual) como na “filogênese” do xadrez (evolução do
xadrez24), a evolução da planificação segue linhas similares. Assim, uma criança que
aprende a jogar repete de certa forma, o que ocorreu na evolução do xadrez,
desenvolvendo primeiro o jogo de combinação, que é mais concreto e baseado na
tática, e depois o jogo posicional, que é mais abstrato e baseado na estratégia.
24 No item sobre a História do Xadrez pode-se acompanhar a evolução do xadrez tendo por base as
principais escolas de pensamento.
79
Nos primórdios do xadrez moderno, que surgiu no século XV, o ataque era mais
baseado em ciladas, que buscavam o ganho fácil e rápido, como é o caso do Mate do
Louco (1.f3 e5 2.g4 £h4#), do Mate do Pastor (1.e4 e5 2.¥c4 ¥c5 3.£h5 ¤f6 4.£xf7#) ou do
Mate de Legal (1.e4 e5 2.¤f3 d6 3.¥c4 ¥g4 4.¤c3 g6 5.¤xe5 ¥xd1 6.¥xf7+ ¢e7 7.¤d5#)25. Estes
ataques, assim como toda armadilha, somente têm sucesso porque o jogador que cai
na cilada não vê as reais intenções do seu adversário. Quando o jogador percebe o
perigo da posição, desenvolve esquemas defensivos visando neutralizar o ataque,
como é o caso de, no Mate do Louco, começar a partida avançando o peão do Rei duas
casas (1.e4), no Mate do Pastor, ao invés de jogar o lance 3 das pretas (3... ¤f6), jogar
3... £e7, e no Mate de Legal, ao invés de jogar o lance 4 das pretas (4... g6), jogar 4... ¤f6.
Assim, como a co-evolução entre predador e presa, os avanços na planificação do
ataque levam, por sua vez, a avanços similares no plano defensivo, como numa
interminável corrida armamentista.
O estágio atual do desenvolvimento da planificação no xadrez encontra-se
bastante avançado. Nesse sentido, Kotov (1989, p. 85) informa que os planos podem
ser para atacar, defender ou realizar qualquer vantagem, seja material ou posicional. Os
planos diferenciam-se uns dos outros por sua finalidade, seu método de realização e
sua quantidade de jogadas necessárias para alcançar o objetivo proposto.
Os planos podem ser agrupados, segundo as etapas de realização, em duas
categorias: os mono-escalonados e os multi-escalonados. Os planos mono-escalonados
são compostos de uma etapa, enquanto que os multi-escalonados por duas ou mais
etapas (KOTOV, 1989, p. 84).
Um exemplo de plano mono-escalonado vem do final rei e dama contra rei,
que pode ser formulado assim: para vencer deve-se levar o rei para a margem do
tabuleiro sem afogá-lo e aplicar o xeque-mate (KOTOV, 1989, p. 82-83).
O final de rei e torre contra rei consta de duas etapas e fornece um exemplo de
plano multi-escalonado: 1) o rei e a torre, atuando juntos, deverão restringir a liberdade
do rei adversário até que ele se encontre na margem do tabuleiro; 2) colocar o seu rei
25 Estas partidas encontram-se no CD-ROM que acompanha o volume 2, na pasta Capítulo 3. Para
visualizá-las, basta seguir as instruções do arquivo Leia-me.
80
em frente ao outro (fazendo oposição) e a torre aplicará o xeque-mate na coluna ou fila
que o rei se encontra (KOTOV, 1989, p. 83-84).
Para o ex-Campeão mundial de xadrez Garry Kasparov (KASPAROV, 2007, p.
25-26), o estrategista começa com um objetivo distante e trabalha em retrospecto até o
presente. Kasparov afirma que o Grande Mestre faz os melhores movimentos porque
eles se baseiam na aparência que ele quer que o tabuleiro tenha dez ou vinte lances à
frente. Isso não exige o cálculo de incontáveis variações das vinte jogadas. Ele avalia as
melhores possibilidades de sua posição e estabelece objetivos. Em seguida, continua
Kasparov, elabora os lances passo a passo para alcançar os objetivos. Na citação a
seguir pode-se ver a descrição de como Kasparov planeja suas ações numa
determinada posição.
Minha intuição ou análise me diz que, em uma determinada posição, existe
potencial para que eu ataque o rei do adversário. Em seguida, em vez de jogar
todas as minhas forças contra o rei, procuro objetivos que devo conquistar para
poder fazer isso com sucesso, por exemplo, enfraquecendo a proteção em
torno do rei do oponente, promovendo a troca de uma peça-chave da defesa.
Em primeiro lugar, preciso compreender que objetivos estratégicos me ajudarão
a alcançar minha meta de atacar o rei e, só então, começarei a planejar a forma
precisa de realizá-los e a examinar os lances específicos que conduzirão à
execução com bons resultados. A ausência dessa estratégia resultará em
planos simplistas com poucas chances de sucesso. (KASPAROV, 2007, p. 26).
No quadro a seguir será apresentada uma taxonomia básica dos planos no
xadrez, contendo quatro tipos de planos: 1) para obter vantagem material; 2) para obter
vantagem posicional; 3) para dar atacar o rei; e 4) para empatar a partida. Segundo o
Grande Mestre Internacional de xadrez Jaime Sunye26, o planejamento no xadrez
envolve sempre três fases principais: a) Tomada de consciência da realidade; b)
Projeções do ideal buscado; c) O caminho para alcançar o ideal buscado. Esta tabela
foi desenvolvida a partir de muitas discussões com Sunye.
26 Informação fornecida em comunicação pessoal.


3.5.2 As Fases no Planejamento no Xadrez segundo De Groot
De Groot (1946, p. 105) afirma que uma jogada possível raramente é feita
pensando somente no movimento isolado; ele quase sempre está conectado com um
objetivo mais geral ou plano que o jogador tem em mente. Assim sendo, a exploração
de um possível movimento não é um fim em si mesmo, mas antes um meio possível
para a realização de uma meta mais ambiciosa no tabuleiro: por exemplo, para obter
uma vantagem material (através de uma combinação), para realizar um ataque de
mate, para consolidar a ala da dama, e assim por diante. Esses objetivos gerais são
conhecidos na literatura enxadrística como planos e planejamento.
Para estudar as fases no planejamento, De Groot (1946, p. 91) apresentou
posições de partidas aos sujeitos que eram convidados a pensar em voz alta (thinking
aloud) e escolher a melhor continuação para a posição. Após a análise dos protocolos,
De Groot (1946, p. 267) definiu quatro fases no processo de pensamento, conforme
pode ser visto no quadro a seguir.



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